Introdução à Preservação de Local de Crime
Guia completo para o primeiro interventor: técnicas, responsabilidades e melhores práticas
Módulo 1
Introdução à Preservação de Local de Crime
Fundamentos essenciais para proteger a integridade das evidências e garantir a justiça
Conceito e importância da preservação
A preservação de local de crime é o conjunto de procedimentos técnicos e sistemáticos destinados a proteger, isolar e manter intacta a cena de um crime desde o momento de sua descoberta até a conclusão dos trabalhos periciais.
Este processo é fundamental para garantir a integridade das evidências, permitindo que os peritos criminais realizem análises precisas e confiáveis.
Qualquer alteração, contaminação ou remoção indevida de vestígios pode comprometer a elucidação do caso e a formação da prova judicial.
A correta preservação assegura que cada item encontrado no local seja coletado, documentado e analisado em seu contexto original, maximizando seu valor probatório.
É uma etapa crucial que exige rigor metodológico e a colaboração de todos os envolvidos, desde a primeira equipe a chegar ao local até os especialistas forenses.

Definição Legal
A preservação do local de crime está prevista no Código de Processo Penal e é considerada essencial para a cadeia de custódia das evidências.
Por que a preservação é tão importante?
Integridade das Evidências
Mantém as provas em seu estado original, evitando alterações que possam comprometer as investigações e análises forenses.
Validade Jurídica
Garante que as evidências coletadas sejam admissíveis em tribunal e possam ser utilizadas no processo judicial.
Reconstrução Precisa
Permite que os peritos reconstruam com exatidão os eventos ocorridos, identificando autoria e dinâmica do crime.
Papel do primeiro interventor
O primeiro interventor é o profissional que chega inicialmente ao local de crime. Seu papel é absolutamente crítico para o sucesso de toda a investigação.
É responsável por proteger a cena do crime, evitar a contaminação ou destruição de evidências e garantir a segurança do local.
As ações tomadas nesta fase inicial determinam a qualidade das provas a serem analisadas posteriormente, influenciando diretamente a validade e a credibilidade do processo judicial.
A capacitação e a atuação correta do primeiro interventor são, portanto, fundamentais para a justiça.
Quem pode ser o primeiro interventor?
Policiais Militares
Frequentemente os primeiros a chegar após o acionamento via 190, responsáveis pelo isolamento inicial e segurança do perímetro.
Policiais Civis
Podem ser os primeiros interventores em investigações em andamento ou quando acionados diretamente pela população.
Guardas Municipais
Em algumas situações, especialmente em locais públicos sob sua jurisdição, podem ser os primeiros a identificar e isolar a cena.
Bombeiros e Socorristas
Quando há vítimas que necessitam atendimento emergencial, devem conciliar o socorro com a preservação das evidências.
Responsabilidades fundamentais do primeiro interventor
01
Avaliar a segurança
Verificar se há riscos imediatos para si mesmo, para terceiros ou para as vítimas antes de adentrar o local.
02
Prestar socorro às vítimas
Quando necessário, priorizar o atendimento médico emergencial, minimizando ao máximo a alteração da cena.
03
Isolar e proteger o local
Estabelecer um perímetro de segurança adequado utilizando fitas, barreiras ou outros recursos disponíveis.
04
Impedir o acesso de pessoas
Controlar rigorosamente quem entra e sai do local, mantendo registro quando possível.
05
Preservar evidências visíveis
Proteger vestígios aparentes de intempéries, pisoteamento ou outras formas de degradação.
06
Comunicar as autoridades competentes
Acionar imediatamente a perícia criminal e demais autoridades necessárias para o prosseguimento da investigação.
O que o primeiro interventor NÃO deve fazer
Ações que comprometem a cena
  • Tocar, mover ou manipular objetos sem necessidade absoluta
  • Permitir que curiosos ou pessoas não autorizadas entrem no local
  • Fumar, comer ou beber dentro do perímetro isolado
  • Usar telefones ou objetos da vítima
  • Limpar ou organizar o ambiente
  • Coletar evidências sem treinamento adequado
  • Alterar a posição de corpos ou feridos, a menos que seja para salvar uma vida
  • Deixar de registrar informações importantes ou detalhes observados
  • Emitir opiniões ou julgamentos sobre o ocorrido a terceiros

Lembre-se: Cada ação no local de crime pode ter consequências irreversíveis para a investigação. Na dúvida, preserve e não toque.
Responsabilidades legais e éticas
A atuação no local de crime não é apenas uma questão técnica, mas também envolve importantes dimensões legais e éticas que devem ser rigorosamente observadas.
Legalmente, qualquer alteração ou contaminação da cena pode comprometer a validade da prova em tribunal, levando à anulação de investigações ou absolvições indevidas.
Eticamente, há um dever fundamental de proteger a integridade do processo judicial e assegurar que a justiça seja feita, respeitando os direitos das vítimas e dos envolvidos.
A responsabilidade de cada interventor é garantir a cadeia de custódia da evidência, agindo com máxima diligência e transparência em todas as etapas.
Fundamentos legais da preservação
Código de Processo Penal
O Art. 6º do CPP estabelece que a autoridade policial deve preservar o local de crime até a chegada dos peritos, determinando que nada seja tocado ou alterado.
Lei da Cadeia de Custódia
A Lei 13.964/2019 instituiu formalmente a cadeia de custódia de evidências, estabelecendo procedimentos rigorosos desde a preservação até o descarte.
Responsabilização Criminal
A alteração dolosa de local de crime pode configurar crime de fraude processual (Art. 347 do CP) ou favorecimento pessoal (Art. 348 do CP).
Responsabilidades legais do primeiro interventor
Dever de preservação
Todo agente público que toma conhecimento de um crime tem o dever legal de preservar o local até a chegada das autoridades competentes.
Este dever está previsto no Código de Processo Penal e em regulamentos específicos de cada corporação.
Responsabilidade funcional
A falha na preservação adequada pode resultar em:
  • Processo administrativo disciplinar
  • Sanções funcionais (advertência, suspensão)
  • Responsabilização civil por danos
  • Responsabilização criminal em casos graves
Dever de documentação
O primeiro interventor deve registrar:
  • Horário de chegada ao local
  • Estado inicial da cena
  • Pessoas presentes
  • Alterações necessárias (socorro, segurança)
  • Medidas de preservação adotadas
Dimensões éticas da preservação
Respeito às vítimas
Tratar o local com dignidade, especialmente quando há vítimas fatais, respeitando a dor dos familiares e a memória do falecido.
Proteção da privacidade
Evitar exposição desnecessária de informações sensíveis, imagens ou detalhes que possam violar a intimidade das vítimas ou envolvidos.
Imparcialidade
Manter postura neutra e profissional, sem prejulgamentos ou favorecimentos que possam comprometer a investigação.
Sigilo profissional
Não divulgar informações sobre o caso, especialmente em redes sociais ou para a imprensa, preservando o segredo de justiça.
Conflitos éticos comuns
"Devo permitir que os familiares vejam a vítima antes da perícia?"
Resposta: Não. Por mais doloroso que seja, a preservação da cena deve prevalecer. Ofereça apoio emocional, mas mantenha o isolamento.
"Um jornalista está oferecendo dinheiro por fotos do local. O que faço?"
Resposta: Recuse categoricamente. Fotografar e divulgar cenas de crime é antiético, pode ser crime e compromete a investigação.
"Reconheci o suspeito como um conhecido. Devo mencionar isso?"
Resposta: Sim, mas apenas às autoridades competentes. Registre formalmente, mas não deixe que isso afete sua imparcialidade na preservação.
Impactos da contaminação da cena
A contaminação de um local de crime pode ter consequências devastadoras para a investigação, comprometendo a busca pela verdade e pela justiça.
O que é contaminação de local de crime?
Contaminação é qualquer alteração, adição ou remoção de elementos da cena original que possa prejudicar a análise pericial e a reconstrução dos fatos.
Pode ocorrer de forma:
  • Intencional: quando alguém deliberadamente altera a cena para ocultar evidências ou criar falsas pistas
  • Acidental: quando pessoas bem-intencionadas, mas sem treinamento, comprometem evidências inadvertidamente
  • Natural: quando fatores ambientais (chuva, vento, animais) degradam as evidências antes da proteção adequada
Como evitar a contaminação da cena do crime
Prevenir a contaminação do local de crime é fundamental para garantir a integridade das evidências e a validade da investigação. O primeiro interventor desempenha um papel crítico nesse processo.
Isolamento Rigoroso
Crie um perímetro de segurança amplo e indevassável, utilizando fitas e barreiras. Controle estritamente o acesso, permitindo a entrada apenas de pessoal autorizado e registrando cada movimentação.
Uso de EPIs Adequados
Utilize sempre luvas descartáveis, máscaras, propés e óculos de proteção para evitar a introdução de material biológico ou fibras. Troque as luvas regularmente para evitar contaminação cruzada.
Observação e Documentação Inicial
Antes de qualquer movimento, observe e registre o estado inicial da cena. Anote detalhes visíveis, odores e posições, utilizando fotos ou vídeos se possível, sem tocar em nada.
Comunicação Eficiente
Após o isolamento, o papel principal é acionar imediatamente as equipes especializadas (perícia, resgate) e fornecer informações claras sobre o que foi observado, sem alterar o local.
Evite movimentos desnecessários dentro do perímetro isolado. Cada passo pode comprometer evidências frágeis e superfícies.
Aguarde a chegada da equipe de perícia para qualquer manuseio de evidências. Não toque, mova ou remova objetos, exceto em situações de risco iminente à vida.
É crucial abster-se de comer, beber, fumar ou cuspir na cena do crime para prevenir a introdução de contaminantes e DNA estranho.
Tipos de contaminação
Contaminação física
Adição de impressões digitais, pegadas, fibras, pelos ou outros materiais estranhos à cena original.
Exemplo: Policial que caminha pela cena sem proteção adequada, deixando pegadas sobre rastros do criminoso.
Contaminação biológica
Introdução de material biológico (DNA, sangue, saliva) que não pertence à cena original.
Exemplo: Socorrista que toca em evidências sem luvas, transferindo seu DNA para objetos da cena.
Contaminação química
Alteração da composição química de evidências por exposição a substâncias externas.
Exemplo: Uso de produtos de limpeza na tentativa de "organizar" o local antes da perícia.
Contaminação por deslocamento
Movimentação de objetos de suas posições originais, alterando a dinâmica da cena.
Exemplo: Familiar que move a arma do crime ao tentar socorrer a vítima.
Consequências da contaminação
Perda de evidências
Vestígios cruciais podem ser destruídos, tornando impossível identificar o autor do crime ou reconstruir os eventos.
Dúvida sobre autenticidade
Mesmo evidências preservadas podem ter sua validade questionada se houver contaminação parcial da cena.
Inadmissibilidade judicial
Provas contaminadas podem ser consideradas inadmissíveis pelo juiz, enfraquecendo o caso da acusação.
Impunidade
Sem evidências confiáveis, criminosos podem ser absolvidos por falta de provas, frustrando a justiça.
Impactos específicos da contaminação
Cadeia de consequências da contaminação
Contaminação inicial
Primeiro interventor ou curiosos alteram a cena do crime sem perceber a gravidade.
Comprometimento pericial
Peritos encontram evidências misturadas, impossibilitando análises conclusivas.
Investigação prejudicada
Sem evidências sólidas, a polícia não consegue identificar ou vincular suspeitos ao crime.
Fragilidade processual
Promotoria tem dificuldade em construir um caso robusto baseado em provas questionáveis.
Questionamento judicial
Defesa contesta a validade das evidências, apontando falhas na preservação.
Resultado insatisfatório
Absolvição por falta de provas, prescrição do caso ou condenação injusta de inocente.
Impactos além do caso individual
Impacto social
  • Perda de confiança da população nas instituições de justiça
  • Sensação de impunidade na comunidade
  • Revitimização das famílias que não veem justiça sendo feita
  • Aumento da criminalidade pela percepção de ineficácia policial
Impacto institucional
  • Desgaste da imagem das forças de segurança
  • Necessidade de retrabalho e desperdício de recursos
  • Desmotivação das equipes periciais
  • Questionamento da competência profissional
Impacto pessoal
  • Responsabilização funcional do interventor
  • Peso moral de ter comprometido a busca pela verdade
  • Possível responsabilização civil ou criminal
  • Danos à carreira profissional
A contaminação é irreversível
Uma vez que a cena é contaminada, não há como voltar atrás.
Diferentemente de outros erros que podem ser corrigidos, a contaminação de evidências é permanente. Por isso, a prevenção através da preservação adequada é absolutamente crítica.

Princípio fundamental: É melhor preservar demais do que preservar de menos. Na dúvida, isole uma área maior e restrinja mais o acesso.
Casos reais de falhas na preservação
Analisar casos reais nos ajuda a compreender as consequências práticas da má preservação e a aprender com os erros do passado.
Através destes exemplos, veremos como erros aparentemente pequenos podem ter um impacto significativo na justiça e na resolução de crimes.
Cada falha serve como uma lição valiosa sobre a importância da rigorosa aplicação dos protocolos de preservação.
Prepare-se para mergulhar em situações onde a correta atuação na cena foi crucial, ou onde a ausência dela comprometeu irremediavelmente a investigação.
Caso 1: O assassinato não solucionado
Contexto
Homicídio em residência de classe média. Vítima encontrada por familiar que acionou a polícia.
Falhas na preservação
  • Familiares entraram e saíram do local diversas vezes
  • Vizinhos curiosos adentraram a residência
  • Primeiro policial não isolou adequadamente o perímetro
  • Objetos foram movidos antes da chegada da perícia
Consequências
  • Impossível determinar quais digitais pertenciam ao criminoso
  • Pegadas do autor misturadas com as de outras pessoas
  • Posição original de objetos desconhecida
  • Caso permanece sem solução até hoje
Caso 2: Contaminação por socorro inadequado
1
19:30 - Ocorrência
Vítima de esfaqueamento em via pública. Testemunhas acionam SAMU e polícia.
2
19:35 - Chegada do SAMU
Socorristas iniciam atendimento sem coordenação com a preservação da cena. Movem a vítima, pisoteiam manchas de sangue.
3
19:40 - Chegada da PM
Policiais encontram cena já alterada. Tentam isolar, mas área já foi comprometida por dezenas de pessoas.
4
20:15 - Chegada da perícia
Peritos encontram cena totalmente contaminada. Padrões de sangue destruídos, evidências pisoteadas.
5
Resultado
Impossível determinar dinâmica do crime. Suspeito identificado por testemunhas, mas evidências físicas insuficientes para condenação.
Caso 3: Limpeza prematura do local
"Achei que estava ajudando. O sangue estava por todo lado, pensei em limpar um pouco antes da perícia chegar para facilitar o trabalho deles."
— Depoimento de familiar em caso de homicídio doméstico
O que aconteceu
Após encontrar a vítima, o familiar, em estado de choque e querendo "ajudar", começou a limpar manchas de sangue e organizar objetos caídos.
Quando a polícia chegou, grande parte das evidências já havia sido destruída.
Evidências perdidas
  • Padrões de respingo de sangue (cruciais para reconstruir a dinâmica)
  • Pegadas do agressor em sangue
  • Posição original de objetos usados na luta
  • Possíveis impressões digitais em superfícies limpas
Lição aprendida
Nunca toque em nada. Por mais perturbador que seja o estado do local, qualquer "organização" ou "limpeza" destrói evidências valiosas.
O trabalho dos peritos é justamente analisar o caos aparente para encontrar a verdade.
Caso 4: Exposição à mídia e curiosos
Descrição do caso
Crime de grande repercussão em área central da cidade. Jornalistas e curiosos chegaram ao local antes mesmo da perícia.
Problema 1: Perímetro insuficiente
Isolamento inicial muito pequeno, permitindo que dezenas de pessoas se aproximassem demais da cena.
Problema 2: Fotografias prematuras
Jornalistas fotografaram e filmaram antes da documentação oficial, comprometendo o sigilo e influenciando testemunhas.
Problema 3: Contaminação por multidão
Pisoteamento de evidências, descarte de lixo no local, alteração do ambiente original.
Consequências jurídicas
Defesa argumentou que a cena estava tão contaminada que qualquer evidência era questionável. Várias provas foram desconsideradas pelo juiz.
Caso 5: Falha na comunicação entre equipes
Situação
Incêndio criminoso em estabelecimento comercial. Bombeiros chegaram primeiro para combater o fogo.
O que deu errado
  1. Bombeiros não foram informados de que havia suspeita de crime
  1. Combate ao incêndio destruiu evidências de acelerante
  1. Movimentação de escombros alterou a cena original
  1. Água do combate diluiu resíduos químicos importantes
  1. Quando a perícia chegou, evidências cruciais já estavam perdidas
Lições aprendidas

Comunicação é essencial
Todas as equipes de emergência devem ser informadas sobre a possibilidade de crime para que possam conciliar suas ações com a preservação de evidências.
Protocolos integrados: Bombeiros, SAMU e polícia devem ter procedimentos coordenados para situações onde há sobreposição de emergência médica/ambiental com investigação criminal.
Caso 6: Contaminação intencional
Contexto
Homicídio em contexto de crime organizado. Suspeitos retornaram ao local antes da chegada da polícia.
Crime original
Execução de rival em disputa territorial. Testemunhas acionam polícia anonimamente.
Retorno ao local
Antes da chegada da polícia, membros da organização retornam para "limpar" a cena.
Alteração deliberada
Remoção da arma, limpeza de sangue, remoção de cápsulas deflagradas, plantio de falsas evidências.
Chegada da polícia
Primeiro interventor encontra cena já alterada, mas não percebe imediatamente a manipulação.
Investigação comprometida
Perícia encontra inconsistências, mas evidências cruciais já foram destruídas ou removidas.
Importância da rapidez
Este caso ilustra por que o tempo de resposta é crítico. Quanto mais rápido o primeiro interventor chega e isola o local, menor a chance de alteração intencional.
Análise comparativa: Preservação adequada vs. inadequada
Estatísticas sobre preservação de local de crime
73%
Casos comprometidos
Percentual de investigações prejudicadas por falhas na preservação inicial do local de crime, segundo estudo da Academia Nacional de Perícia Criminal.
15min
Janela crítica
Tempo médio entre a descoberta do crime e a chegada do primeiro interventor - período crucial para evitar contaminação.
92%
Importância do treinamento
Redução nas falhas de preservação quando o primeiro interventor recebeu treinamento específico em preservação de local de crime.
Padrões de falhas mais comuns
68%
Perímetro insuficiente
Isolamento de área menor que o necessário, permitindo contaminação das bordas da cena.
54%
Controle inadequado de acesso
Falha em registrar ou impedir entrada de pessoas não autorizadas no local preservado.
47%
Movimentação de objetos
Alteração da posição original de evidências por manuseio desnecessário.
39%
Proteção inadequada contra intempéries
Falha em proteger evidências de chuva, vento, sol ou outros fatores ambientais.
31%
Documentação insuficiente
Falta de registro adequado do estado inicial da cena e das ações tomadas.
Dados baseados em análise de 500 casos de 2020-2023 em capitais brasileiras.
Lições fundamentais dos casos reais
1
Aja rápido, mas com cuidado
A velocidade de resposta é importante, mas nunca deve comprometer a qualidade da preservação. É melhor chegar 2 minutos depois e preservar corretamente do que chegar primeiro e contaminar a cena.
2
Isole mais do que parece necessário
É sempre melhor isolar uma área maior e depois reduzir do que descobrir tarde demais que o perímetro era insuficiente.
3
Comunique-se com todas as equipes
Bombeiros, SAMU, polícia e perícia devem trabalhar de forma coordenada, cada um ciente das necessidades dos outros.
4
Documente tudo
Registre o estado inicial, todas as pessoas presentes, todas as ações tomadas. Esta documentação pode ser crucial posteriormente.
5
Eduque o público
Muitas contaminações ocorrem por desconhecimento. Explique às pessoas presentes por que não podem entrar ou tocar em nada.
6
Nunca subestime a importância
Mesmo crimes aparentemente "simples" podem ter desdobramentos complexos. Trate toda cena com o máximo rigor.
A importância do treinamento contínuo
Os casos reais demonstram que o conhecimento teórico não é suficiente.
É necessário:
  • Treinamento prático regular
  • Simulações de cenários reais
  • Atualização constante de procedimentos
  • Análise de casos anteriores (próprios e de outras jurisdições)
  • Cultura institucional que valorize a preservação

Investimento que vale a pena: Cada real investido em treinamento de preservação economiza dezenas em investigações prolongadas e processos judiciais complexos.
Checklist de prevenção de falhas
Antes de entrar no local
  • ☐ Avaliei os riscos de segurança?
  • ☐ Há necessidade imediata de socorro?
  • ☐ Identifiquei os limites prováveis da cena?
  • ☐ Tenho equipamento de proteção adequado?
  • ☐ Comuniquei minha chegada às autoridades?
Durante a preservação
  • ☐ Estabeleci perímetro amplo o suficiente?
  • ☐ Estou controlando o acesso de pessoas?
  • ☐ Estou documentando minhas ações?
  • ☐ Protegi evidências visíveis de intempéries?
  • ☐ Mantive comunicação com a central?
Ao passar o local para a perícia
  • ☐ Informei sobre alterações necessárias?
  • ☐ Relatei todas as pessoas que entraram?
  • ☐ Documentei o estado inicial da cena?
  • ☐ Mantive o isolamento até a liberação?
  • ☐ Registrei formalmente a transferência?
Princípios fundamentais da preservação
Após analisar conceitos, responsabilidades, impactos e casos reais, podemos consolidar os princípios essenciais que devem guiar toda ação de preservação. Em primeiro lugar, a integridade da cena é primordial, exigindo intervenção mínima e meticulosa documentação. A cadeia de custódia deve ser estabelecida e mantida rigorosamente para garantir a admissibilidade legal das provas. Finalmente, a comunicação clara e a colaboração entre as equipes são cruciais para o sucesso da preservação e investigação.
Os 10 mandamentos da preservação de local de crime
1
Segurança em primeiro lugar
Avalie riscos antes de entrar. Sua segurança e a de terceiros vem antes da preservação de evidências.
2
Observe antes de agir
Pare, olhe e pense antes de entrar. Planeje seu caminho para minimizar alterações.
3
Isole amplamente
Sempre isole uma área maior do que parece necessário. É mais fácil reduzir do que expandir depois.
4
Toque o mínimo possível
Se não precisa tocar, não toque. Se precisa tocar, use proteção adequada e documente.
5
Controle o acesso rigorosamente
Apenas pessoas absolutamente necessárias devem entrar. Registre todos os acessos.
6
Proteja as evidências
Cubra, proteja e preserve evidências visíveis de degradação ambiental ou acidental.
7
Documente tudo
Registre o estado inicial, suas ações, pessoas presentes e qualquer alteração necessária.
8
Comunique-se constantemente
Mantenha contato com a central, informe a perícia, coordene com outras equipes.
9
Mantenha a imparcialidade
Não tire conclusões precipitadas. Preserve tudo, deixe a análise para os peritos.
10
Permaneça até a liberação
Não abandone o local até que a perícia chegue e assuma formalmente a responsabilidade.
Hierarquia de prioridades
1
2
3
4
5
1
1. Vida
2
2. Segurança
3
3. Isolamento
4
4. Preservação
5
5. Documentação
Esta pirâmide representa a ordem de prioridades do primeiro interventor. Cada nível só deve ser abordado quando o anterior estiver assegurado.
Mentalidade do preservador eficaz
Observação
Capacidade de ver detalhes que outros não percebem
Pensamento crítico
Avaliar situações complexas e tomar decisões rápidas
Autocontrole
Resistir ao impulso de "ajudar" tocando ou organizando
Comunicação
Explicar claramente às pessoas por que não podem entrar
Meticulosidade
Atenção aos detalhes e documentação precisa
Responsabilidade
Compreender a importância do seu papel na justiça
Erros mais comuns e como evitá-los
Recursos e ferramentas essenciais
Equipamentos básicos
  • Fita de isolamento (mínimo 100m)
  • Cones ou cavaletes
  • Luvas descartáveis (várias)
  • Máscaras e proteção ocular
  • Lanterna potente
  • Bloco de anotações e caneta
  • Câmera ou celular para registro
  • Lonas ou coberturas plásticas
Conhecimentos necessários
  • Tipos de evidências físicas
  • Técnicas de isolamento
  • Protocolos de comunicação
  • Noções de cadeia de custódia
  • Primeiros socorros
  • Gestão de crise e multidões
  • Legislação aplicável
  • Procedimentos institucionais
Habilidades práticas
  • Avaliação rápida de situações
  • Comunicação clara e assertiva
  • Controle emocional
  • Trabalho sob pressão
  • Observação detalhada
  • Documentação precisa
  • Coordenação com equipes
  • Tomada de decisão ética
Fluxograma de decisão do primeiro interventor
01
Chegada ao local
Avalie segurança → Há risco imediato? Se sim, aguarde reforço. Se não, prossiga.
02
Verificação de vítimas
Há vítimas? → Precisam de socorro imediato? Se sim, preste socorro minimizando alterações. Se não, não toque.
03
Estabelecimento de perímetro
Identifique limites da cena → Isole área ampla → Instale barreiras físicas.
04
Controle de acesso
Há pessoas no local? → Remova todos exceto vítimas → Impeça novos acessos.
05
Proteção de evidências
Identifique evidências visíveis → Há risco de degradação? → Proteja com coberturas.
06
Comunicação e documentação
Acione perícia → Documente estado inicial → Registre todas as ações → Aguarde transferência.
Coordenação com outras equipes de emergência
SAMU / Socorristas
Prioridade: Salvar vidas
Coordenação: Informe sobre possível crime; solicite que minimizem alterações; documente o caminho usado; registre objetos movidos.
Comunicação: "Há indícios de crime. Por favor, usem este caminho e me informem sobre qualquer objeto que precisarem mover."
Bombeiros
Prioridade: Combater incêndio / Resgatar pessoas
Coordenação: Alerte sobre possível crime; solicite preservação de possíveis pontos de ignição; peça para documentar alterações.
Comunicação: "Suspeita de incêndio criminoso. Podem documentar o estado inicial antes do combate?"
Perícia Criminal
Prioridade: Coletar e analisar evidências
Coordenação: Relate estado inicial; informe alterações necessárias; mantenha isolamento até liberação; transfira responsabilidade formalmente.
Comunicação: "Local preservado desde [horário]. Alterações: [listar]. Pessoas que entraram: [listar]."
Situações especiais e desafios
Condições climáticas adversas
Desafio: Chuva, vento ou sol intenso podem degradar rapidamente evidências como pegadas, manchas de sangue ou documentos.
Solução: Priorize proteção imediata com lonas, guarda-chuvas ou barreiras. Documente o estado antes e depois da proteção.
Multidões e alta visibilidade
Desafio: Crimes em locais públicos ou de grande repercussão atraem curiosos e mídia, dificultando o isolamento.
Solução: Estabeleça perímetro amplo imediatamente; solicite reforço policial; use barreiras físicas; designe alguém para lidar com imprensa.
Locais de difícil acesso
Desafio: Crimes em áreas remotas, edifícios altos, ou locais de difícil acesso podem atrasar a chegada da perícia.
Solução: Reforce o isolamento; prepare-se para permanência prolongada; proteja evidências de degradação natural; mantenha comunicação constante.
Múltiplas ocorrências simultâneas
Desafio: Necessidade de atender outras chamadas enquanto aguarda a perícia.
Solução: Solicite reforço para manter o isolamento; nunca abandone o local sem substituição; priorize conforme gravidade e risco de contaminação.
Avaliação de competências do primeiro interventor
Autoavaliação: Você está preparado?
Conhecimentos técnicos
  • ☐ Conheço os tipos principais de evidências físicas
  • ☐ Sei estabelecer um perímetro adequado
  • ☐ Compreendo a cadeia de custódia
  • ☐ Conheço os protocolos de comunicação
  • ☐ Sei usar equipamentos de proteção
  • ☐ Conheço minhas responsabilidades legais
Habilidades práticas
  • ☐ Consigo avaliar riscos rapidamente
  • ☐ Sei documentar adequadamente
  • ☐ Consigo controlar multidões
  • ☐ Sei coordenar com outras equipes
  • ☐ Mantenho calma sob pressão
Atitudes e valores
  • ☐ Compreendo a importância da preservação
  • ☐ Resisto ao impulso de "ajudar" tocando
  • ☐ Mantenho imparcialidade
  • ☐ Respeito o sigilo profissional
  • ☐ Valorizo a ética sobre a conveniência
  • ☐ Reconheço quando preciso de ajuda
Recursos disponíveis
  • ☐ Tenho equipamentos básicos no veículo
  • ☐ Sei quem acionar em cada situação
  • ☐ Conheço os protocolos institucionais
  • ☐ Tenho acesso a treinamento contínuo

Resultado: Se você marcou menos de 80% dos itens, busque treinamento adicional. A preservação adequada depende de preparação constante.
Você é o primeiro elo da cadeia de justiça
Sua atuação no local de crime pode fazer a diferença entre a verdade e a impunidade
A preservação adequada não é apenas um procedimento técnico – é um compromisso ético com a justiça, com as vítimas e com a sociedade. Cada ação que você toma, cada decisão que você faz no local de crime, tem o poder de mudar vidas.
Preserve com excelência. Preserve com responsabilidade. Preserve para a justiça.